Fiat Marea: O injustiçado


Foto: Coches.com


Bomba, motor de vidro, mocréia... Esses são uns dos apelidos que este coitado leva.

Aqueles políticos filhos duma p***! Vou estacionar um Marea no Palácio do Planalto!”
Um dono de Marea acha graça, mas ao mesmo tempo fica explosivo quando ouve algo assim...

Pois é... Hoje não vamos falar mal do nosso querido Marea, aliás, iremos defender este grande guerreiro injustiçado!

*Pra falar verdade, este é o primeiro da série “O Injustiçado”. Tem muitos carros que sofreram injustiças da boca do povo...

Sinceramente, o Marea não merece a má fama que tem hoje.

  Foto: U.S. Navy photo by Photographer’s Mate 2nd Class Aaron Peterson.

Lançado em 1996 na Itália e em 1998 no Brasil, Marea nasceu com a intenção de substituir o Fiat Tempra. Foi uma baita evolução: design matador, itens de série ou opcionais que eram novidades no país, melhor acabamento, existia versão automática (!) e o MELHOR! O MOTOR!

Foto: Fabrice Coffrini/AFP
Uma possível reação de um hater de Maréias.

Sim! Isso mesmo! O Modelo 4 Cilindros 16v(!) 1.8 já entregava 130cv(!); o revolucionário (No mercado Brasileiro) Fivetech(5 cilindros 20v) 2.4 entregava 160cv e torque de 21 kgfm a 3500 rpm e o Fivetech 2.0 Turbo entregava 182cv e torque de 27 kgfm a 2750 rpm!

 

  Foto: Carplace.com.br
Esse interior não era para qualquer carro!

Só para ter uma ideia de como o Marea já foi um carro foda, o modelo Turbo 2.0 foi eleito um dos carros nacional mais rápido do país naquela época de 2000.

O motor Fivetech era um dos mais avançados e tecnológicos no mercado Brasileiro... É aí que está o chute no saco...

O carro em si era muita areia para o nosso caminhão (Brasil). Era um carro tipicamente Europeu, projetado para comportar em países de primeiro mundo. Então, ele está acostumado a beber combustível chique e andar nos “tapetes”. Mal sabe o que é lombada, coitado. Era uma criança de berço de ouro que necessitava de cuidados extras. 
Um exemplo que comprova 100% esse fato é o “erro” que ocorreu no “Manual do Proprietário” do Marea nacional:

Trocar óleo a cada 10000~20000 km...(Este foi o primeiro passo para o “fracasso”, foi ativado o “timer” da bomba)
Trecho retirado do Manual do Ford KA Europeu.
É comum a troca do óleo de motor durar toda essa quilometragem em países de primeiro mundo, que tem gasolina com qualidade superior ou condições climáticas menos agressivas; Já aqui no Brasil sofremos com os buracos(outro problema... suspensão ou estrutura), combustível de má qualidade e condições climáticas agressivas. O correto no Marea nacional era fazer as trocas de óleo de motor no máximo em cada 5000km ou 6 meses, o que vier primeiro. Ah, e tinha que ser óleo sintético! Um carro desse porte está pouco se fodendo se você vai conseguir pagar ou não por um tipo de lubrificante mais caro do que os minerais.
A mecânica era avançada e assim a sua manutenção era mais cara. Mas não era um grande problema para os primeiros donos. Se eles tinham cacife para comprar um modelo Fivetech, tinha como bancar a manutenção do garoto. Fora que tinha a garantia, faziam revisões nas concessionárias com mecânicos especializados (**Eu não sei se eles choravam na hora de trocar a correia dentada...). 

**Há relatos de que os mecânicos das concessionárias Fiat choravam quando chegava aquela puta nave: O Alfa Romeo 164. A mecânica geral do mesmo era bem complexa. Hoje ele também é conhecido como uma “bomba”, justamente pela causa a seguir:

Foto: Charles01 , Alfa Romeo 164

Agora começa a fase que o nosso querido “Mareínha” começa a ter uma vida sofrível e vira um bicho EXPLOSIVO (me desculpem).

Anos foram passando, a garantia acabou, o livreto da manutenção já tem a coleção completa das figurinhas dos carimbos e o dono quer um carro mais novo. Vem aí, um Marea “Seminovo” a venda.

Novos donos adquiriram o Marea “Seminovo”. Provavelmente gostaram bastante, foi um belo conforto no “ego”, até que chega um dia para trocar o óleo do motor...
Os mais atenciosos (ou com grana a mais) colocaram o óleo correto (lubrificação correta e óleo sintético).
Outros simplesmente pensaram:

“Pu** que pariu, óleo caro da po***! Vou Botá o “comum” mesmo! Que se fod*!”
Ou não sabiam de nada mesmo (bastava apenas ler o manual...).
Daí no futuro surge “Borras”... (duplo sentido e piada bosta rolando por aqui)

Foto: Flatout.com.br

*Isso se já não colocaram o óleo “incorreto” antes!

O Pior era quando o Marea dava algum pau ou precisava trocar a correia dentada, muitos mecânicos não estavam preparados com a tamanha complexidade do Fivetech e a paciência em lidar com o cofre apertado(Fiat 147 Feelings?). Alguns técnicos despreparados arriscavam a sorte ou outros subestimavam o desafio. Resultado: Muitas vezes carro voltava pior do que já estava.
É válido citar sobre a troca da correia dentada por que é um processo bem trabalhoso, inclusive o custo da mão de obra é quase 3x mais caro do que de um carro normal.

 Foto: Flatout.com.br , Project Cars #34 "Time Bomb", Rodrigo Sublime, Marea Weekend Turbo.

Mais alguns anos se passaram e o Marea desvalorizou de vez: Pela a fama da manutenção cara e a “velhice”.
É aí que a coisa perdeu o controle de vez. Muita gente (possivelmente leigos no assunto automotivo, acontece) acharam o preço do Marea usado bem barato e que estavam na vantagem de levar um Marea “equipadão” ao invés de Uno peladão. Fora um pensamento comum de muito consumidor por aí: Carro barato = Manutenção barata (Que não era o caso do Marea... Não mesmo).
Muita gente que comprou o Marea pensando que estava levando algo econômico, chorou na hora que o carro deu pau e precisou de alguma peça nova. As peças eram difíceis de achar e eram bem caras.

Nem sempre carro barato vai ter manutenção barata!

Foto: Christian Castanho, Quatro Rodas, Marea 2.0 Turbo

Resumindo:

Hoje o Marea é um carro que rico não quer e pobre (nóis) não aguenta... Aliás... Nem rico aguenta, é sério! Ouvi relatos que as peças do Marea estão mais caras do que das BMW!

O que realmente aconteceu é que o Marea era muito avançado para o nosso país e o custo de cuidado e manutenção eram caras. O custo geral era bem longe do nosso “poder aquisitivo”. Ainda mais que toda essa “tecnologia” chegou de uma forma “repentina” no nosso país, vieram caros demais ou técnicos não estavam muito preparados com o tal tipo de coisa. 
Nós Brasileiros não temos costume em ler o “Manual de instruções”, muitas vezes acontece da gente estar usando o produto de uma maneira errada pela vida inteira (Se bem que na parte do óleo do motor, a culpa foi da Fiat).

O Marea ainda estava “despreparado” com as condições do Brasil, o mesmo caso do Fiat Tipo(outro injustiçado).
A relação entre o Brasileiro e Marea foi de “desentendimento”.

 Foto: Fiat, Fiat Marea Weekend

Dando uma de Mãe Dináh, prevejo que a história vai ser quase a mesma para o Golf, New Civic e Fusion. Aliás, nem precisa ser um vidente para chegar nesse ponto. Já dá pra ver alguns casos ocorrendo com uns Ford Fusion 2006 e alguns Golf Mk3 ou Mk4(Sapão), todos pela falta de manutenção preventiva, custo e trabalho da manutenção elevada enquanto o preço do carro é “acessível”.

Um carro antigo de luxo pode estar barato hoje, mas a manutenção cara continua sendo a mesma de antes.

Tome cuidado na hora de escolher um carro. Não adianta nada comprar um carro “top” para massagear o seu “ego” e depois ficar xingando quando o carro der pau e não ter como pagar.

Fiat Marea é um ótimo carro, mas foi bastante judiado.


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Ceyron Louis

Autoentusiasta meio louco, um feliz proprietário de um Ford Ka Mk1 "Rosso Corsa". Curte Heavy Metal, Jazz e Rock Psicodélico.

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